Coleção Beatrix Potter

Beatrix Potter, o nascimento do moderno livro infantil

Beatrix Potter foi em muitos sentidos um caso à parte na história do livro para crianças. Nasceu numa família burguesa muito rica e foi educada em casa por precetoras. O pai e os hábitos familiares também contribuíram para a sua formação estética. O pai gostava de pintura e fazia fotografia, além de que a ida a exposições e museus era um dos passatempos familiares. Aprendeu a desenhar sobretudo sozinha, com animais, plantas e paisagens como modelos, o que é bem visível nas suas ilustrações para crianças. Quando publicou o primeiro livro já tinha um pequeno prelo em casa e sabia o suficiente de produção para toda a vida se ter envolvido na impressão dos seus livros.
Quando Beatrix Potter escreveu o primeiro livro — As Aventuras de Pedrito Coelho, talvez o livro infantil com mais êxito de todos os tempos —, as histórias para crianças eram invariavelmente em verso. A única exceção até à época fora The Little Black Sambo, um livro cheio de graça, também ele com ilustrações não profissionais e igualmente um êxito até hoje. O editor de Beatrix Potter encorajou-a a manter a linguagem simples, e assim teve início a tradição que se mantém até hoje nos livros para crianças.
Outra intervenção inovadora da criadora do Pedrito Coelho tem a ver precisamente com a produção dos seus livros. Com a sua experiência e o seu feitio determinado, preferiu prescindir dos direitos da primeira tiragem e imprimir o livro com chapas de cobre, um processo recente e de qualidade muito superior ao usado até então, mantendo ao mesmo tempo o preço do livro baixo. As suas decisões sobre o formato, a capa e as páginas de guarda revelaram-se igualmente sensatas.
Se compararmos os livros de Beatrix Potter com os de hoje, as diferenças não são imensas, mas são sensíveis. A atenção ao pormenor, as roupas das personagens e os interiores das casas são característicos da época vitoriana, e de resto para o tempo têm um aspeto claramente moderno e simples. Se um certo preciosismo das imagens lhe parecer vulgar, engana-se: o efeito é criado pelas cópias infinitas a que deu origem até hoje. Mas o que continua a encantar as crianças nas suas histórias mais complexas é terem uma verdadeira intriga. Acontecem coisas, o perigo é real, há aventura e o fim não é previsível.
Os costumes da época em matéria de educação chocam com frequência os pais de hoje, por exemplo a sova memorável na história do coelhinho Benjamim. Diz-nos a experiência que as crianças a aceitam bem melhor que os pais. Em geral percebem que, no contexto da história, por trás do castigo está a preocupação do pai com o filho e o sobrinho. Aliás, a sova tem lugar depois de o pai se ter arriscado para os salvar.
O número de artigos e teses de doutoramento acerca de Beatrix Potter surpreenderia de certeza a maior parte dos pais: é da ordem dos muitos milhares. As vendas dos livros, essas, andam pelas centenas de milhões em dezenas de línguas, ao longo de mais de cem anos.
Quando fizemos este esforço para pôr ao alcance de todos a um preço baixo as obras de Beatrix Potter pensámos em tudo isto, mas sobretudo na variedade. Não acreditamos, como muitos pais excessivamente prudentes, que é preciso proteger as crianças das convicções duvidosas que enchem muitos livros alimentando-os espiritualmente com a uniformidade de baixo nível estético do canal Panda. Em nossa opinião a variedade não pode passar sem o passado, e é por reconhecerem que assim é que os colecionadores têm feito os livros infantis alcançar preços altíssimos em leilões. Um exemplar da edição de autor das Aventuras de Pedrito Coelho, a primeira, impressa apenas a preto, atingiu recentemente em leilão um preço de cerca de 25 mil euros. No tempo do digital não faz falta tanto para proporcionar uma experiência rica às crianças. Tencionamos por isso continuar a editar livros de outros tempos e outras geografias e línguas ao preço mais baixo possível.

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