A palavra francesa routine, originalmente uma espécie de diminutivo de route, estrada, faz parte do vocabulário global do nosso tempo. Aparece em línguas que vão do português ao russo e é escrita com vários alfabetos.
O sentido original de routine está próximo do que em português designamos carreiro, um caminho criado por passagens repetidas pelo mesmo lugar. Quando aparece em português tem o sentido pejorativo que também tinha metaforicamente em francês, de hábito maquinal e não analisado. Qualquer busca na Internet mostra que este sentido passou para segundo plano, a uma distância grande do que foi adoptado em programação, em que designa um conjunto fechado de instruções invocado dentro de um programa. É este o sentido mais próximo do sentido global actual: uma tarefa repetitiva ou conjunto de instruções para a executar.
Já o adjectivo rotineiro só muito recentemente está a assumir esta acepção emocionalmente mais neutra, o suficiente para ainda sentirmos desconforto se nos disserem que somos profissionais rotineiros, mesmo que o nosso trabalho seja numa linha de montagem de alfinetes ou de automóveis pretos. Um profissional rotineiro é pouco empenhado, não tem interesse nem gosto no que faz.
Por outro lado, se rotina mudou de sentido, porque não há-de acontecer o mesmo com rotineiro? Três razões à consideração do leitor: 1. porque esse hábito não resulta da falta de uma palavra que diga a coisa (podemos dizer repetitivo ou monótono, por exemplo), mas de uma maneira, por assim dizer, rotineira de tratar a língua (e nós somos pessoas com brio); 2. porque ainda vamos a tempo de travar o processo; 3. porque, tendo em conta 1. e 2., ceder a maus hábitos como este seria contribuir para transformar a língua numa espécie de massa confusa e indistinta em que tudo quer dizer a mesma coisa.
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