4 regras para escrever percentagens

Quatro por cento são ou 4 por cento é? Por uma vez, uma questão de língua fácil. Bastam quatro regras simples para arrumar uma dúvida que já todos tivemos: as percentagens pedem singular ou plural?

1. Exceptuando os casos de que falamos nos pontos a seguir, as percentagens pedem verbo no plural:

Noventa por cento dos eleitores condenam a corrupção.

Trinta por cento das leitoras do jornal não leem a secção desportiva.

É fácil perceber: no fundo estamos a dizer que noventa em cada cem fazem assim ou assado, e noventa pede plural.

2. O um permite o singular e o plural:

Um por cento dos leitores não compra o jornal ao domingo.

Um por cento dos leitores compram o jornal ao domingo.

Embora a nossa afirmação se refira ao «um» que há em cada cem, na realidade não estamos a falar de um em particular, mas de um número indeterminado, o que nos leva muitas vezes a optar por falar no plural. Não se preocupe, é mesmo assim. As duas formas estão corretas, use a que lhe soar melhor.

3. Depois há o caso dos nomes coletivos:

Dez por cento da cáfila estava esgotada quando chegou ao oásis.

Apesar de isto significar que dez em cada cem camelos estavam esgotados, se usarmos o nome coletivo a concordância faz-se no singular. O mesmo acontece com percentagens de objetos que formam uma unidade:

Vinte por cento do bolo desapareceu antes de a festa começar.

4. Quanto a concordâncias, falta referir que o numeral inicial se usa sempre no masculino:

Quarenta e dois por cento das leitoras confessaram gostar de romances cor-de-rosa.

Se formulássemos a ideia de outra maneira, podíamos usar o feminino: quarenta e duas em cada cem leitoras… Acontece que quando falamos de percentagens usamos o masculino. Faça uma pesquisa na Internet e vai concluir que é uma lei da natureza.

 ***

Só há poucas décadas o símbolo e o conceito de percentagem entraram no uso diário e são reconhecidos por qualquer pessoa com um nível básico de escolaridade. Nos jornais há muitos erros em cálculos simples de percentagens, e havemos de voltar ao assunto. Aqui o objetivo é só ajudar quem tem dúvidas na escrita. Para arredondar a explicação, convém lembrar alguns hábitos geralmente respeitados em publicações profissionais, e não só em português.
Por exemplo, não havendo restrições de espaço, em textos corridos é costume escrever «por cento» por extenso em vez de usar o símbolo, apesar de o valor numérico vir habitualmente em algarismos (ou seja, «4 por cento»). Só no início de frases é habitual escrever os números por extenso. Já num artigo de jornal acerca de estatísticas económicas ou comparações entre indicadores, por exemplo, em que há muitos valores em poucas linhas, é mais prático usar o símbolo («4%», mesmo que na página anterior tenha aparecido «4 por cento» numa referência isolada).
Repare-se que as regras desta natureza devem ser decididas por cada publicação, ou editora, por exemplo. Estas são as que seguimos na Livros sem Papel, mas são também as mais usuais. No entanto, há regras que são definidas por organismos internacionais, por exemplo as respeitantes ao uso do símbolo «%», e em geral são as mesmas que se aplicam às unidades (veja https://livrossempapel.com/2014/07/04/5-regras-para-escrever-unidades).

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